domingo, 23 de agosto de 2009

Alimentação na terceira idade

Paula Veloso (nutricionista)| 2009-08-19

"A terceira idade é uma etapa da vida de um indivíduo. A época em que uma pessoa é considerada na fase da terceira idade varia conforme a cultura e desenvolvimento da sociedade em que vive. Em países classificados como em desenvolvimento, por exemplo, alguém é considerado de terceira idade a partir dos 60 anos. Para a geriatria, somente após alcançar 75 anos a pessoa é considerada de terceira idade.
Com a chegada da terceira idade, alguns problemas de saúde passam a ser mais frequentes, e outros, incomuns nas fases de vida anteriores, começam a aparecer.
Não existe um consenso com relação a fronteira que limita a fase pré e pós velhice, nem tão pouco, quais são os indícios mais comuns da chegada nesta fase. "
in Wikipédia

Independentemente da idade, para se ter saúde é necessário comer correctamente toda a vida. A relação entre uma boa alimentação e uma boa saúde não se confina apenas à gravidez e ao primeiro ano de vida da criança. Nas fases mais avançadas da vida, apesar de não ser necessário comer muito, deve comer-se muito bem, ou seja, privilegiar-se o valor nutritivo dos alimentos.

Devido a várias condicionantes da vida, um dos factores que mais se altera com a idade é a nutrição, o que torna os idosos um grupo vulnerável a muitos problemas de saúde resultantes de dietas pobres ou inadequadas, que exige a atenção de profissionais de saúde e cuidadores.

Muitos idosos não se alimentam cuidadosamente devido a várias causas:
- alterações físicas e metabólicas;
- solidão;
- depressão - consequência das próprias alterações físicas, do isolamento social, de problemas financeiros, etc.;
- dificuldade em deslocar-se devido a diminuição da visão ou problemas osteoarticulares;
- incapacidade de cozinhar;
- dificuldades económicas;
- falta de apetite que pode advir da solidão, da diminuição do olfacto ou do paladar ou mesmo da alteração do sabor dos alimentos devido a certos medicamentos;
- problemas digestivos, como obstipação, azia ou flatulência;
- problemas dentais e orais que surgem pela falta de dentes, cáries ou próteses desajustadas ou pela secura da boca e garganta devidas ao envelhecimento, a falta de água ou a certos medicamentos;
- interacção de medicamentos.

Como consequências mais comuns podem surgir:
- fadiga crónica;
- osteoporose;
- depressão;
- enfraquecimento do sistema imunitário;
- aumento do período de convalescença;
- aumento de custos e incidência da institucionalização;
- deficiente qualidade de vida.

Para minimizar os riscos de uma má nutrição e, consequentemente, de uma saúde deficiente, aqui ficam algumas sugestões que poderão ser adaptadas no dia-a-dia:
- cortar os alimentos em bocados muito pequenos;
- dar mais tempo para a refeição;
- cozinhar legumes, vegetais e frutos;
- consultar dentista, trocar prótese;
- consumir gordura em pequenas quantidades (para evitar anti-ácidos que provocam obstipação);
- comer uma pastilha elástica sem açúcar antes da refeição para estimular a secreção de saliva;
- fazer várias mini-refeições ao longo do dia;
- usar mais ervas aromáticas e especiarias;
- preferir pão escuro e cereais pouco refinados;
- consumir frutos, vegetais e outros alimentos nas quantidades sugeridas pela pirâmide alimentar;
- evitar deitar-se imediatamente a seguir à refeição ou adoptar uma posição com 30º de inclinação;
- praticar exercício físico regularmente como dançar ou caminhar;
- beber oito copos de água durante o dia e a acompanhar a refeição (muito importante).

Apesar de haver uma natural diminuição do metabolismo devido à diminuição da actividade celular, uma diminuição da actividade física e uma consequente diminuição das necessidades calóricas, a verdade é que as necessidades nutricionais nem sempre são satisfeitas. E começam a surgir problemas que vulgarmente se atribuem à idade mas que, em muitos casos, resultam apenas de uma nutrição deficiente.

Nunca nos devemos esquecer de que da qualidade da nossa alimentação depende a nossa qualidade de vida. Por isso, uma boa alimentação não tem idade!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Mãezinha

A terra de meu pai era pequena
e os transportes difíceis.
Não havia comboios, nem automóveis, nem aviões, nem mísseis.
Corria branda a noite e a vida era serena.

Segundo informação, concreta e exacta,
dos boletins oficiais,
viviam lá na terra, a essa data,
3023 mulheres, das quais
45 por cento eram de tenra idade,
chamando tenra idade
à que vai do berço até à puberdade.

28 por cento das restantes
eram senhoras, daquelas senhoras que só havia dantes.
Umas, viúvas, que nunca mais (oh! nunca mais!) tinham sequer sorrido
desde o dia da morte do extremoso marido;
outras, senhoras casadas, mães de filhos…
(De resto, as senhoras casadas,
pelas suas próprias condições,
não têm que ser consideradas
nestas considerações.)

Das outras, 10 por cento,
eram meninas casadoiras, seriíssimas, discretas,
mas que por temperamento,
ou por outras razões mais ou menos secretas,
não se inclinavam para o casamento.

Além destas meninas
havia, salvo erro, 32,
que à meiga luz das horas vespertinas
se punham a bordar por detrás das cortinas
espreitando, de revés, quem passava nas ruas.

Dessas havia 9 que moravam
em prédios baixos como então havia,
um aqui, outro além, mas que todos ficavam
no troço habitual que o meu pai percorria,
tranquilamente no macio sossego, às horas em
que entrava e saía do emprego.

Dessas 9 excelentes raparigas
uma fugiu com o criado da lavoura;
5 morreram novas, de bexigas;
outra, que veio a ser grande senhora,
teve as suas fraquezas mas casou-se
e foi condessa por real mercê;
outra suicidou-se
não se sabe porquê.

A que sobeja
chama-se Rosinha.
Foi essa que o meu pai levou à igreja.
Foi a minha mãezinha.

António Gedeão